fila da puta

Alguns dias atrás fazia esse mesmo calor infernal que quase sempre faz por aqui. Entro no banco e a fila está imensa. Tudo piora quando eu reparo que na minha frente tem um cara com trocentas contas pra pagar, eram tantas que ele tinha que amarrar um barbante pra melhor envolver aqueles dez quilos de problema.
Já tava mais que putasso, não tinha dormido direito porque na noite anterior fiquei bebericando com a rapaziada, acordei cedo todo dolorido e com vontade de matar um.
Então alguém toca no meu ombro, quando me viro deparo com uma mulher de seus quarenta e poucos anos que singelamente diz:

- Menino esse calor tá demais, ontem mesmo minha prima desmaiou no buzú...
- CARALHO, MOÇA, SÉRIO!?! PUTA QUE PARIU, HEIN?!! - Foi o que eu pensei em gritar na hora, mas não, como sou um bom moço tive que fazer nem que fosse um pequeno comentário.
- Nossa, que loucura...

Foi aí que eu me fudi, porque se eu tivesse mantido minha boca fechada, talvez, só talvez ela tivesse reparado que meu saco já estava estourando com excesso de peso.

- Pois é menino, e você tinha que ver blá, blá, blá, blá, blá, blá, BLÁ, BLÁ x 1000000000

Depois da segunda frase eu apenas olhava pra ela e concordava com a cabeça - "Eu podia dar um murro na cara dela agora e sair correndo que ela ia ficar uma semana sem saber o que aconteceu." - Sonhei acordado.

Em determinado momento eu percebi que ela tinha me perguntado alguma coisa, e ficou com aquela cara de que está esperando uma resposta. Nessa hora pareceu que o banco todo esperava também, e todos seriam testemunhas do meu descaso para com o próximo.

- Eeeeer... - Finjo que o celular toca.
- O que? Sério? Estou indo praí - Dramatizo espetacularmente.

Então saio sem olhar pra trás, com as contas atrasadas e de encontro ao sol de Salvador que derrete a minha cara.
O importante é que eu não magoei um outro ser humano.

Que merda.