o buraco é mais em baixo

No início de 2005 Os notabaxa fizeram o seu último show. Foi em um sábado, no Calypso.
Nessa época a formação contava com Caio na bateria, Rogério na guitarra e eu no baixo. Curtia muito tocar com os caras, era sempre uma verdadeira insanidade.
Eu quase nunca tocava de verdade, já que sempre fui uma negação como baixista e sempre esquecia as músicas. O que dava todo um charme especial, na minha opinião. Na maioria das vezes tocava bastante alcoolizado, hábito que não deixei apesar do término da banda.

Nesse dia ocorreu umas das minhas bebedeiras mais homéricas, se tornando uma grande lacuna nas minhas memórias, lembro apenas de estar bebendo no nhô caldos e depois disso tudo se tornou escuridão. E apesar de tudo o pessoal comentou que aquele tinha sido uns dos nossos melhores shows, ao menos no quesito feeling, já que técnica e harmonia não eram muito comigo.

Passado a ressaca e mais ou menos uns três meses, Rogério comenta comigo algo sobre Paulo ir buscar o baixo dele no luthier, e que tinha gastado rios de dinheiro com o conserto do baixo.

- Porra que merda...e porque gastou tanto?
- O baixo tava todo estourado né, velho! - Respondeu Rogério com surpresa.
- Estourado de que, viado?
- De você, mizéra! - Finaliza ele para o meu espanto.

Resumindo, na noite do show eu estava sem baixo e Paulo, que concerteza deveria estar bêbado também, teve a coragem de me emprestar o seu instrumento. O circo já estava armado. Eu como bom palhação, resolvi cair em algum momento do show e levar o baixo junto comigo. Fiquei intacto... mas o baixo teve que ir pra UTI.

Nunca quis saber o valor do conserto, e Paulo também nunca me cobrou o prejuízo. Provalvelmente ele sabia que eu, duro feito pedra, não teria como arcar com as consequências dos meu atos.

Se fosse o baixo de uma pessoa qualquer, provavelmente não estaria aqui pra contar esta história, já teriam mandando cobradores pra quebrar minhas pernas e mãos.

Mas a mágica daquela noite foi tão forte, que ninguém ligou pra um instrumento que foi destroçado nas mãos de um bêbado. Tudo bem, ainda tínhamos cervejas e pelo que me falaram, estavam geladíssimas.


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À Paulo e seu baixo-guerreiro.